quinta-feira, outubro 20, 2011

Lupe Cotrim



Hoje eu estava lendo o blog da minha prima e fiquei curiosa a respeito da autora de um poema que gostei muito - Hino dos Comedidos.
Lupe Cotrim, que na verdade era Maria José Cotrim Garaude Gianotti foi uma poetisa e professora da ECA - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo na década de 60.
Todos os textos dela que consegui achar na internet, apesar de não serem muitos, despertaram em mim uma vontade de comprar livros e saber mais sobre essa mulher que escreve com tanta clareza, discernimento e inquietação.
Não tenho dúvidas de que o mundo seria um lugar melhor se existissem mais Lupes Cotrim.



HINO DOS COMEDIDOS

Não me agradam esses homens bem fracionados no tempo, cedendose amavelmente em todas as ocasiões.
E mais também não me agradam os partidários tão vários de toda a moderação.
Passo distante dessa gente comedida e moderada, que guarda o vinho vinte anos para bebê-lo mais velho, homens de ferro que só sabem anunciar a mensagem de espera,
que aguardam o momento oportuno,
que, sempre expelindo relógios,
resistem à melhor viagem,
que desconhecem as emoções
que sabem apenas sofrer sincronizados
às tristezas publicadas nos jornais.
Adeus, moderados,
Adeus, que sou diferente: compreendo a mulher que rasga as vestes e sinto imensa ternura pelo homem desesperado.


A RAIZ COMUM

Esse equilíbrio incerto em que vario,
fechada num consciente paradoxo,
esse saber instável e ortodoxo
e a angústia de ser porto e ser navio.

Essa ambição contínua do meu gosto,
esse céu, em que não confraternizo,
essa dor escondida no seu riso
e essa paz defendida no meu rosto.

E dentro de mim, gritando em atropelo,
desejo de presenças e raízes,
desejo de ser mais do que a partida.

Mas o cenário frio ao nosso apelo
e esses homens partidos em países
e a morte, um grito surdo desta vida.

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