domingo, setembro 19, 2010

O céu mudou de cor. Verde Esmeralda

“Sempre que alguém daqui vai embora dói bastante, mas depois melhora.
Com o tempo vira um sentimento que nem sempre aflora, mas que fica na memória e depois vira um sofrimento que corrói tudo por dentro, que penetra no organismo, devora. Mas depois também melhora”.

Não tem mais o cheiro de café forte. Não tem mais domingo na casa da vovó.
Não tenho mais seu carinho e amor incondicionais.
Dizem que ser vó é ser mãe com açúcar, é ser mãe duas vezes. Perdi minha mãe com açúcar, minha segunda mãe, que em muitos momentos foi primeira, foi única. Única a acreditar na família como base forte para momentos difíceis, única a sorrir quando muitos choraram e a chorar enquanto alguns sorriram. Única em cada gesto, em cada exemplo. Única em atos altruístas, sinceros, morais.
Mulher de fibra, resistente como rocha, preciosa como seu próprio nome prova. Pequena por fora, enorme por dentro. Ainda me lembro de nossas longas conversas na sacada e o gosto do seu café ainda sinto em minha boca. Lembro de você dançando, sorrindo e sendo você em cada momento da minha vida. Dos melhores, você fez parte. Talvez foram os melhores porque você estava lá, fazendo de cada momento um momento especial. A você eu devo muita coisa. Coisas que hoje fazem de mim o que sou.

Sou eu graças a você. E de certa forma, sou você. Sou você assim, longe de mim, mas sempre no meu coração. Lembro de você por várias vezes tentando entender o que faz um redator publicitário. Embora eu sempre explicasse que crio peças, campanhas e escrevo roteiros para comerciais e ações de marketing, você sempre perguntava: “mas não teria sido melhor se você tivesse feito medicina, como sua mãe, ou direito, como seu avô?” Mesmo que você não entendesse direito a minha profissão, o meu ofício, essa foi a única maneira que eu – como redator – encontrei para homenagear você. Um texto.
Um texto sobre sentimento, agradecimento. Nos falamos por telefone naquela noite e você me disse que estava tudo bem.
Se soubesse que aquela seria nossa última conversa, teria feito diferente. Teria falado com você pessoalmente. Teria falado coisas que você já sabia, mas repetiria uma por uma, tudo de novo.
Faltou eu dizer mais uma vez: eu te amo. Faltou meu beijo, meu abraço.
Faltou meu muito obrigado. Você simplesmente saiu de cena antes mesmo da cortina se fechar. O espetáculo, que é você, acabou. E como em todo final de um bom espetáculo, ficam os aplausos daqueles que tiveram o privilégio de assistir você, em cadeira cativa. A você devo o início, boa parte do fim e todo o meio. Obrigado por tudo minha vó. Minha eterna Esmeralda, minha pedra preciosa de mais de 80 quilos. Vá preparando aquele café forte que eu tanto gosto. Um dia desses a gente se vê.

Erick Cypriano – texto em homenagem a Esmeralda G. Gonçalves de Oliveira

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